Palmada = bofetada, pancada com a mão.
Pedagógica = que procura ensinar; educar.
Qualquer associação entre estas duas palavras resulta de um grande mal entendido. Ainda assim, é frequente que o ouçamos por aí…
Muitas vezes se pensa que para que os filhos aprendam que um determinado comportamento não é adequado, é preciso recorrer ao castigo ou até a uma palmada.
Ora, para que percebamos melhor do que falamos, imaginemos a cena: “Chegas a casa, estás cansada(o) e apetece-te tudo menos arrumar a pilha de roupa que tens há uma semana na cadeira do quarto. O teu(tua) companheiro(a), farto(a) de tanta desarrumação diz-te que já chega e que tens de tratar do assunto. Tu, porque não estás para aí virada(o) e o dia foi caótico, gritas: “Epah, não me chateies mais!”. Perante a resposta torta, ele(a) e dá-te um valente par de estalos.”
Consegues sentir?
A humilhação, a vergonha, a raiva, a sensação de impotência, a falta de conexão… Pois é.
Agora imagina o que sente uma criança quando alguém, que ama mais do que tudo no mundo, lhe bate.
Bater numa criança ou num adolescente é tão errado como bater num adulto. Então, porque será que bater num adulto com quem temos uma relação afetiva é violência doméstica e bater num filho é educação?
Quando batemos numa criança estamos a pôr em causa a ligação de segurança que tem connosco, a colocá-la numa situação de ameaça e de ambivalência emocional: a pessoa que a protege e cuida é a mesma pessoa que a faz sentir em perigo. E isto, acreditem, é extremamente desorganizador.
Para além disso, geralmente a palmada surge como o recurso possível numa altura em que já estamos em situação de frustração extrema e de perda de controlo. Ora isto é também percebido pelos nossos filhos, que sentem que, naquele momento, não estão a ser suficientemente bons e que, por isso também, talvez até nem sejam merecedores do nosso amor. Pode não ser esta a mensagem que queremos transmitir mas é assim que ela é recebida. E aos poucos, se a estratégia se repetir, é assim que a mensagem se transforma no mensageiro e pode chegar a ameaçar a nossa capacidade de estabelecer vínculos afetivos.
O direito à integridade física é um direito fundamental e é um direito de todos os nós, independentemente da idade que tenhamos.
Por isso, quando falarmos de palmadas, falemos de agressão, porque a pedagogia nada tem a ver com isto.
Concordo Rita, mas a verdade é que nenhum adulto é perfeito e depois de um dia de trabalho, daqueles bem duros, as crianças resolvem testar limites… Às vezes, quando mais nada parece resultar, lá sai a palmada pedagógica. Tenho dois filhos, um adulto e outra quase lá e, honestamente, não me parecem nada traumatizados.
Obrigada Maria, pela sua partilha. De facto assim é, e quem aqui nunca disse ou fez algo que à partida não faria se não estivesse numa situação limite (por cansaço ou por tantas outras razões), que atire a primeira pedra. É por isso também que a parentalidade se transforma na medida em que temos a capacidade de refletir sobre ela e, claro, de aceitar que não seremos nunca perfeitos. 🙂
Não podia estar mais de acordo. Nunca bati nas minhas filhas, que hoje já são mães.Optei sempre por conversar sobre algo que estava mal e que devia ser mudado. Claro que nem sempre estivemos de acordo, mas o diálogo e o reconhecimento que nem sempre era na mesma altura, saía vencedor e assim é que deve de ser. Obrigada por mais uma reflexão…
Obrigada Ana, pela reflexão que partilha. Estamos em plena sintonia. A reflexão e o diálogo conduzem a caminhos importantes, no sentido em que ensinam e transmitem valores que são fundamentais na relação com os nossos filhos, alimentando neles a capacidade de auto-reflexão sobre comportamentos e consequências. E esta, será concerteza uma mais valia no seu processo de crescimento e autonomização. 🙂