O mérito, o valor e a excelência foram convidados para a festa do ano.
Vestiram-se a rigor, puseram o seu melhor sorriso e, antes de sair de casa, dançaram juntos ao som de Freddie Mercury.
Ao chegar à escola, sentiram-se ainda mais especiais. Estava tudo tão bonito. As flores que enfeitavam o auditório, as luzes que traziam outro brilho ao palco, a toalha azul, a mesa de café, o chá… e uns rolinhos brancos, muito alinhados, atados com uma fita branca de cetim, que faziam quase adivinhar a importância das coisas que traziam escritas.
Todos endireitavam o corpo, com ar imponente, de mãos atrás das costas para os receber: a equipa da direção, os professores, os pais e uii… imagine-se, até o presidente da câmara!
O mérito, o valor e a excelência ficaram um pouco envergonhados com tal acolhimento mas encheram o peito de orgulho por ali terem sido chamados.
À medida que a cerimónia avançava, anunciavam-se os nomes da lista dourada e os meninos e as meninas subiam ao palco, debaixo de aplausos. Os pais, de pé na plateia, não cabiam em si de contentes e por entre flashes de telemóvel e braços no ar, via-se uma ou outra lágrima de emoção.
O mérito, o valor e a excelência distribuíam abraços e assinavam contentes os diplomas dos alunos premiados que, assim que podiam, fugiam outra vez para os braços da família.
E mesmo no momento em que começavam a habituar-se a tão especial missão, o mérito, o valor e a excelência perceberam, que os rolinhos brancos atados com fita de cetim branca, haviam chegado ao fim.
“Mas… quantos alunos tem esta escola?”, perguntou com estranheza a excelência.
“Cerca de 300!”, respondeu alguém prontamente.
“E então onde estão os outros 260?”, devolveu o mérito.
Um silêncio constrangedor tomou conta da sala.
Sim, era verdade, naquela escola moravam 260 crianças que ali não tinham cadeira naquela noite.
“Ahãã…” avançou corajosamente alguém: “Sabem é que os critérios este ano são apertados. É preciso ter nível 4 ou 5 a todas as disciplinas ah, e claro, não ter sido sujeito a nenhuma medida disciplinar…”
O mérito, o valor e a excelência olharam confusos uns para os outros e perceberam, finalmente, o que ali se passava. Não conseguindo disfarçar o natural desapontamento, baixaram os braços, deixaram esmorecer o sorriso, apagar-se o entusiasmo e juntos, abandonaram a festa.
Já em casa e antes de adormecer, tomaram a mais sábia decisão das suas vidas: falar com a organização e propor a revisão dos critérios a concurso. Para o ano bastaria apenas o cumprimento de um, para que se excedessem todos os padrões de mérito, de valor e de excelência: Ser Criança.
E com pós de perlimpimpim, esta história chegou ao fim.
Era só isto, meus senhores. Era com esta história de encantar que hoje vos queria adormecer…
Amei Rita. As tuas palavras expressam na perfeição aquilo que me vai na alma relativamente a este tópico. Vou partilhar 🙂
Obrigada Marta, pela partilha e pela afirmação do teu sentir em relação a isto. Vamos sendo alguns, felizmente e eu espero que a mudança possa começar a acontecer. <3
Adorei e sendo professora partilho a mesma opinião. obrigada por estas palavras tão sábias
Obrigada eu Ângela, pela partilha e por estar aí. 🙂
Não podia ser descrito de melhor forma. Fantástico, Vou partilhar!
Tão bom Cristina! <3 Muito obrigada!